No fim de semana em que Isabella morreu, 4 crianças foram mortas de forma violenta.
Segundo especialistas, quase sempre o agressor faz parte da família.
No fim de semana em que a menina Isabella foi morta, outras quatro crianças também morreram de forma violenta. De acordo com o Ministério da Saúde, a cada dois dias, em média, cinco crianças de até 14 anos morrem vítimas de agressão. Ou seja, a cada dez horas, uma criança é assassinada no Brasil.
Um caso recente aconteceu no Tocantins. No dia 11 de fevereiro, a mãe voltava do trabalho quando encontrou o filho mais velho no portão. Estranhou o marido ter deixado as crianças sozinhas. Ao entrar, encontrou Pablo, de 2 anos, na cama. Só uma hora depois, ao ver que o menino não acordava, percebeu que ele estava morto.
“Todo o momento que eu fecho meus olhos, quando alguém pergunta, sempre eu vejo meu filho morto em cima daquela cama”, disse a mãe.
O único suspeito surgiu de um depoimento. É o pai, Israel Júnior Lima, foragido desde o dia da morte.
O filho de 7 anos contou ter visto o pai batendo no irmão caçula. Pablo teria derrubado leite no sofá e, por isso, apanhou.
“Da análise do laudo, da fotografia, nós vimos que o menino apresentava vários hematomas pelo corpo, cabeça, rosto, perna, região abdominal”, afirmou Paulo Reinaldo da Silva Nóbrega, diretor do Instituto de Criminalística de Tocantins.
Espancamento está entre as principais causas de morte violenta de crianças. Em primeiro lugar, vem arma de fogo. Em seguida, as mortes provocadas por objeto cortante e estrangulamento ou sufocação. As crianças também são mortas por afogamento, queimadura e agressão, inclusive sexual.
“O pai ele acaba usando de violência contra a criança não para matar. E essa violência ganha tal intensidade que acaba gerando a morte”, observa o jurista Luiz Flávio Gomes.
As mortes são muitas porque as agressões são corriqueiras. O disque 100, um telefone nacional para denúncias de violência contra a criança, recebe mais de 90 casos por dia, a maioria de negligência e violência física ou psicológica. Quase sempre o agressor faz parte da família.
“A mãe bate mais, mas quem maltrata mais violentamente, a ponto de ser hospitalizado, geralmente é o homem, o pai. Isso acontece em todos os níveis sociais, em todos os extratos econômicos da sociedade”, diz o pediatra Lauro Monteiro.
Os moradores da cidade de Planalto, no sudoeste da Bahia, ainda estão chocados com a morte de uma menina de 1 ano e meio, ocorrida há pouco mais de duas semanas. Mariana foi vítima de violência doméstica. Ela era a caçula dos quatro filhos de um casal.
“Não me conformo, não me acostumo sem a menina”, disse Martinho dos Santos, pai de Mariana.
A menina foi deixada pelo pai na casa da ex-mulher dele. Mariana dormia em uma cama, enquanto a dona da casa Selvita dos Santos lavava roupa no quintal. “Quando eu cheguei aqui para dar banho e comida à menina, não encontrei mais a menina”, lembra a dona da casa.
Três horas depois, Mariana foi encontrada morta em uma lagoa. A polícia baseou a investigação na coleta de depoimentos de vizinhos e parentes. Quinze dias depois, uma confissão surpreendente esclareceu tudo: o irmão adotivo da menina, de 14 anos, assumiu a autoria do crime. Disse que ficou irritado porque a irmã chorava muito.
“Ela era muito chorona e eu não agüentei mais”, confessou o irmão.
Confissões são raras
Neste caso acontecido no interior da Bahia, a polícia chegou ao criminoso, o irmão, menor de idade, graças a uma confissão. Mas isso é raro.
“Eu nunca vi ninguém confessar, pelo menos no hospital, que, que aquelas lesões graves e evidentes tinham sido causadas por ela, pelo marido, pelo companheiro, por alguém que sempre mente”, explica Lauro Monteiro.
A mentira dificulta o trabalho da polícia e da Justiça. “A gente sabe que são raríssimos os casos de pais agressores e até abusadores sexuais que chegam a ter um laudo que permita a condenação”, acrescenta.
“É difícil punir porque normalmente não tem testemunhas. Estamos falando de assassinatos de crianças dentro de casa. Dentro de casa, você não tem testemunhas. E quando tem, é da família, e gente da família sempre se preocupa muito e normalmente não incrimina gente da família”, afirma o jurista Luiz Flávio Gomes.
Estrangulamento
No caso deste crime, a polícia não teve dificuldades para achar o culpado. Uma prima de Yuri avisou a mãe do menino que ele havia sido levado da escola. A mãe acionou a polícia, que foi até a casa do padrasto e o prendeu.
Na delegacia, Edmilson Bonifácio e Silva confessou que matou o garoto para se vingar da mãe que tinha terminado um relacionamento com ele.
“Eu sei que a criança não tinha nada a ver, mas estava aborrecido, estava com sangue quente, passou uma coisa na minha cabeça. Eu me descontrolei da cabeça e cometi esse erro aí”, disse o padrasto.
“Não é rara a morte de crianças dentro das casas. É raro isso tudo ganhar publicidade, ter provas, ir a júri e haver condenação. No Brasil, isso é muito difícil”, reconhece Luiz Flávio Gomes.
Fonte: Globo.com
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